

Memento
Exposição Individual - Lucas Soares
Curadoria
Bia Penna
Mariana Couto
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Expografia
Isadora Matos
Larissa Brandão
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Produção
Lucas Soares
Paula Lopes
Juiz de Fora, novembro de 2019
Há algo de extraordinário ao se pensar numa sala de estar como um cômodo feito especialmente para se estar, afinal, o que é preciso para que se esteja presente? Tempo? Escrevo para assegurar que estou, mas ainda sem saber se o que trago nessa carta tem mais de mim ou do que vejo aqui.
Se no crochet para concluir um ponto é necessário voltar dois, antes de prosseguir, gostaria de retornar à palavra que dá nome a essa exposição. Daqui de onde estou, Memento é também encontro.
Descubro numa breve pesquisa que há uma expressão, memento mori, que é o sussurro que te lembra de que um dia você vai morrer. Mas memento é também prece que se reza, ou ainda, uma simples nota, uma reminiscência.
Não sei ainda de qual desses sentidos gosto mais, nem se todos estão aqui. Sei que essa exposição é sobre um íntimo.
Paul Valéry falou certa vez que o que há de mais profundo no homem é a pele. Gosto de pensar que o que importa está localizado justamente no que é superficial. A pele que reveste nosso corpo é também o lugar do encontro e início das trocas com o outro. Sem a pele não há subjetividade possível, nem mesmo sua ficção.
Penso que o que Lucas Soares faz em seus trabalhos é um processo de investigação dessa pele própria, da corrosão dela, ou então da forma como é tecida. É uma espécie de arqueologia do eu, onde as lacunas entre os fragmentos encontrados são preenchidas, ora pela materialidade, ora pelo olhar de quem vê. A frustração de não controlar a ferrugem ou de errar um ponto é, ao mesmo tempo, a janela que se abre para os vestígios de histórias que não se conhece.
A pele é presença e passagem. Está em construção. E como numa sala de estar, neste lugar, agora, o importante é estar.
Espero, sinceramente, que a narrativa iniciada não termine aqui de ser tecida.
Bia Penna
